Mudamos o mundo todos os dias. A qualquer hora. Sem censura. Amarga ou doce. Com ou sem o primeiro gomo de tangerina.

Monday, October 24, 2005

Lisboa a arder - leiam antes de dizerem disparates

Curioso artigo de opinião de Jorge Fiel sobre as diferenças entre lisboetas e portuenses e -- mais importante do que isso --, a diferente percepção que o poder político e a opinião pública em geral têm dos desaires que ocorrem em cada uma das cidades. Por outras palavras, o que em Lisboa passa despercebido, no Porto ganha auras de escândalo intolerável.

Nota: recebi por diversas vezes este artigo no meu e-mail. Fui protelando a sua publicação neste blogue. Mas ele tem de constar.

Lisboa a arder

«As cidades são diferentes, mas ainda mais diferentes são as pessoas que as habitam».

AMO o Porto, mas esta paixão deixa-me espaço para gostar muito de Lisboa. Depois de um fim de tarde no miradouro da Graça, ninguém no seu perfeito juízo pode negar que Lisboa é uma das mais belas cidades do mundo. São cidades diferentes. É fácil gostar de Lisboa logo à primeira vista. O Porto tem de se aprender a gostar. As cidades são diferentes, mas ainda mais diferentes são as pessoas que as habitam.
No Premier, o «health club» que frequentava no Porto, quem chega solta um sonoro bom-dia, logo correspondido pelos que lá estão. As pessoas circulam nuas pelo balneário e conversam umas com as outras, sobre tudo e nada - a bola, a bolsa, os casos do dia. Toda a gente se conhece pelo nome e profissão. Ficámos todos satisfeitos e orgulhosos quando a recepcionista Conceição acabou o curso de Direito.
Trouxe para Lisboa as maneiras do Porto, mas tive de me adaptar, porque não gosto de dar nas vistas - prefiro disfarçar-me na paisagem. Deixei de dar os bons-dias à chegada ao Holmes Place, porque me fartei deles fazerem ricochete nos armários - ninguém mos devolvia. E para evitar olhares desaprovadores ando pelo balneário com a toalha enrolada à cintura.
Gosto muito de Lisboa mas não gosto de algumas pessoas que a habitam.
Não gosto das pessoas que mal sabem que sou do Porto desatam a tentar imitar de uma forma grotesca a pronúncia do Norte, entremeando uns caragos com uns ditongos ditos à moda galaico-portuguesa.
Abomino a ignorância dos que se julgam sem sotaque e tomam a sua adocicada earredondada pronúncia lisboeta como o cânone da língua, que deve parte dasua riqueza às diferentes maneiras como é falada nas mais variadas latitudese longitudes.
Gosto muito de Lisboa mas não gosto de alguns políticos que a habitam.
Não gosto de um Jorge Sampaio, cujas regras de educação lhe permitiram usaro discurso de inauguração da Casa da Música para criticar os «atrasos daobra» e a «derrapagem dos custos».Não me lembro de alguém ter criticado os «atrasos na obra» e a «derrapagem nos custos» nos discursos de inauguração do magnífico Centro Cultural deBelém ou da fantástica Expo-98.
Não gosto de um ministro Mário Lino, cujo código de boas maneiras lhepermitiu usar o discurso de inauguração de uma nova linha do Metro do Portopara ameaçar congelar a expansão da rede, devido aos «atrasos na obra» e à«derrapagem dos custos».
Não me lembro de alguém ter ameaçado congelar a expansão do Metro de Lisboana sequência dos escandalosos «atrasos na obra» do Metro no Terreiro do Paçoou da enorme «derrapagem nos custos» da estação Baixa/Chiado.
Não gosto de um ministro Manuel Pinho, cujos princípios éticos são largos aoponto de abençoar um Prime que habilmente permite o uso de fundoscomunitários em Lisboa, a mais rica de todas as regiões ibéricas (o Portoestá em 27º lugar), de acordo com a UE. É por causa de atitudes como estas que Portugal continua a parecer um bilharque descai sempre para um só buraco - a capital.
O grito de raiva «Nós só queremos Lisboa a arder» é a expressão (grosseira) da revolta de quem se sente discriminado.A única vacina eficaz contra esta raiva é corrigir as assimetrias que desequilibram o país.

in Expresso, caderno Economia & Internacional, 13-08-2005

Sunday, October 16, 2005

Texto de Vasco Pulido Valente publicado na Kapa em 1991 - leitura obrigatória!!

Uma Aventura com o Dr. Mário Soares


http://kapa.blogspot.com/2005/09/uma-aventura-com-o-dr-mrio-soares.html

Saturday, October 15, 2005

Uma terrível verdade

LEIAM. A corrupção está em todo o lado, o Tiago que o diga.

Mudança

Nada de mais, mas tive mesmo de pôr aquelas letrinhas idiotas para confirmação nos comentários. Farta de coisas a serem vendidas neste humilde espaço, que para isso vendia coisas minhas (claro!), decidi-me finalmente pela alteração nos settings do blogue itself. E pronto. É só. Qualquer incómodo, a gerência pede desculpas e de, qualquer forma, é alheia às mesmas. Ou não. Mas pedimos desculpa, pelo menos. Ya.

Thursday, October 13, 2005

Duas petas nacionais - rubrica

Ontem recordaram-me, a propósito do caso Joana, a frase:

«Portugal é um país de brandos costumes». Não sei de quando é a frase, nem quem é o inventor, mas deve ser coisa do tempo do Estado Novo. De uma época em que o país não era brando, mas fortemente reprimido.

É uma peta monumental. Do tamanho do elevadíssimo índice de homicídios que se praticam em Portugal. Mata-se com facilidade por cá e sempre se matou. Basta olha para a história desde os tempos da República. Mata-se o Presidente da República, o Rei, o filho, os assassínos, tudo «in loco». E depois é uma sucessão sem fim: em crimes passionais somos recordistas, na certa. Homem mata mulher e filhos e suicida-se é título banal de jornal. Porque Portugal é mesmo assim.

A outra, que eu também acho um máximo e que se usa há anos e anos, tentando que se torne verdade (Ei!!!! Uma mentira repetida não se transforma em verdade! Não para quem tem memória e se lembra da história. Não para quem sabe que não é verdade).

Por isso, aquela de que aos funcionários públicos se pedia que assinassem uma declaração garantindo que não faziam parte do PCP durante o tempo da outra senhora passa a integrar no top 2 a rubrica, Petas nacionais.

Portugueses e portuguesas, abre-se aqui a rubrica das petas nacionais. E não é peta.

Friday, October 07, 2005

Reprovação divina

Eu nem ia dizer nada. A sério. Passei a campanha muda e calada no Tanja. Mas hoje... Não resisto: esta sexta-feira, em Queluz de Baixo, vi apoiantes de Teresa Zambujo, vestidos de laranja e empunhando bandeiras, «venderem» propaganda social-democrata a uma freira. Em arruada, mas ainda sem a energia do pequeno-almoço, todos tiverem direito a panfletos. Até a freira. Não sei se ela lhes «vendeu» os benefícios do Evangelho. Mas foi estranho, confesso.

Todos vimos de tudo nesta campanha: os coletes de cabedal, os aventais, o apelo ao voto no quadradinho verde em detrimento das setas, a chegada da Fatinha num arraial de terceiro mundo sem direito ao rancho folclórico e restando só o folclore, os apertos de mão, as polémicas desnecessárias, os cartazes mais idiotas de sempre, o dinheiro mais mal gasto da história... A campanha sem discussão de ideias. Com honrosas e raras excepções (que se calhar nem um vereador elegem).

Sim, sim, vimos tudo. E, no entanto, submersa nessas imagens durante dias a fio, esta manhã, o inusitado, o ridículo, o mínimo denominador comum fez-me voltar a escrever entre bicas e pastéis (a pastelaria Jú continua com imensa saída, obrigada)...

Uma velha freira de branco vestida, rodeada por laranjinhas ainda ressacados que garantem que Oeiras dá o exemplo!, impingem publicidade da Zambujo e abanam bandeiras, retiram do sossego a irmã que lhes abana a cabeça em sinal de desinteresse... E de reprovação. Divina.

É isso: registei aquele olhar - é o de reprovação divina.