Fantasporto a quatro mãos
Do nosso lado da cama...
«De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos», diz-se, mas bom cinema, esse, existe com certeza. Num grande auditório repleto, esta película, "El Outro Lado de la Cama", de Emilio Martinez Lazaro começou por fazer desconfiar as massas adeptas do cinema fantástico desta 24ª edição. Quando num grande plano vemos duas meninas, uma loira outra morena, a cantarem e a sugerir-nos um musical, a desconfiança apodera-se. Sim, mesmo com "Moulin Rouge" ou "Dancer in The Dark" há qualquer efeito nos musicais e nas comédias românticas que acumulam com o género anterior. Mas a desconfiança desvanece-se tão rapidamente quanto a percepção da leveza subtil com que o tema infidelidade é abordado nesta metragem. É que não é infidelidade é... qualquer coisa que tem a ver com estar apaixonado ou dividido, manter uma relação com confiança ou à maneira mais antiga que potencia a imagem do verdadeiro macho latino.
Está lá tudo o que tem uma relação. Está lá tudo o que nos pode trazer felicidade. Está lá tudo o que nos pode deixar sem dormir. Está lá tudo o que nos faz... «trepar pelas paredes». Até à hora de fecho desta edição não sabemos se é um dos vencedores (mas temos pena). No entanto, acreditem que é uma das melhores psicoterapias para casais deprimidos num país à beia-mar plantado. E depois há «gags» hilariantes sobre sexo, sobre traição, sobre detectives, sobre a amizade, sobre a homossexualidade. Sobre os novos tempos e sobre os velhos tempos.
Com música, dança, coro, choro e riso pelo meio. «O Outro Lado da Cama» é aquele onde eu e tu estamos ou já estivemos. As dúvidas, as incertezas, as mentiras, as meias-verdades, as relações com fim, as relações que parecem não ter fim.
De forma crua, mas nunca desesperançada, Emilio Martinez Lazaro termina o filme de facadas no matrimónio como se fossemos todos uma grande família. Afinal, pecadilhos todos cometemos e quando o casal atraiçoado atraiçoa também, então «amor com amor se paga» e tudo termina bem.
Os espectadores entraram na sala pouco passava das nove da noite mas às onze ainda riam com vontade. Se não é um intelectual «empedernido» ou se não procura só terror «gore» no Fantasporto, e se não viu a sessão de quinta-feira à noite, então reze, reze muito para que «O Outro Lado da Cama» venha para um clube de vídeo qualquer. O cinema comercial espanhol está em grande. E nós por cá podíamos aprender a fazer parecido.
Judite França e Nuno F. Santos
publicado in «O Primeiro de Janeiro»
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