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Thursday, January 15, 2004

A Arte
"Ninguém, jamais, escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou, a não ser de facto, para sair do Inferno". A frase é de Antonin Artaud, o homem que "picava" a cabeça com uma faca, em pleno no palco, frente a uma assistência incrédula. O homem que fazia tudo para sair do inferno.

O Porto, segundo Artaud, saiu do inferno. Porque se tornou jovem ao conhecer, porque colheu sabedoria e "armazenou suavidade para o amanhã". Foram as manhãs e as noites que entusiasmaram Paul Thomas Anderson quando deixou Lisboa para rumar ao Porto e conhecer o que se faz por cá.

A revista «Wallpapper» aguçou o apetite do realizador de Magnólia – com um artigo de quatro páginas sobre o pós-capital Europeia da Cultura – e fê-lo deixar a cidade onde foi promover o seu último filme. Para procurar arte, para procurar vida. É sabido que a rigidez orçamental da Câmara do Porto, fez o autarca Rio esquecer as virtudes da cultura. O "pão" é mais importante do que o "circo", pensa o economista. Pensa bem. Sem "pão" não há "circo". Mas sem "circo" não saimos do inferno.

Artaud era louco, mas suficientemente lúcido para procurar a paz na arte. Como faz Anderson quando durante dois dias observou a luz do Porto, as igrejas, as exposições, os bares onde fervilham ideias, onde cresce o entusiasmo da juventude na procura por algo novo e brilhante. Anderson veio "undercover" à procura de uma cidade "cheia de segredos". A "secret town" pode bem ser o próximo nome do seu filme. O Porto tem qualidade cinematográfica, diz o californiano que se apaixonou pela Invicta como tantos outros portugueses, coleccionadores de fotografias e de pedaços da cidade. A arquitectura entusiasmou-o, Serralves também, a Ribeira é "enigmática" e a Casa da Música "irreverente".

O Porto 2001 tornou o "burgo" conhecido nas páginas das revistas internacionais. O suficiente para despertar a curiosidade de um dos mais promissores realizadores da actualidade. Só nós é que não vemos nada disso, pois não?

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