Mudamos o mundo todos os dias. A qualquer hora. Sem censura. Amarga ou doce. Com ou sem o primeiro gomo de tangerina.

Sunday, March 14, 2004

Se o mar não me fugisse

Se o mar não me fugisse
Quando caminho na areia
E o vento não soprasse
E o horizonte ainda ouvisse
A tua voz de sereia...

Se a insónia que mata morresse
Em prelúdios de agonia
E a solidão hibernasse
E a tristeza soçobrasse
Em noite de maresia...

Se a tempestade amainasse
E o barco largasse o cais
E a bruma se afastasse
Deixando que o sol rompesse
Em ondulados iguais...

Se o fogo apagado acendesse
A ternura original
E o aço frio vergasse
E a ironia inútil cedesse
Cansada de fazer mal...

Se eu ainda sentisse
Aquele volúpia de outrora
E a pomba morta voasse
E o rouxinol mudo cantasse
Cantigas de outra hora...

Se a tua boca ardesse
Dos beijos que te mordi
E a flor murcha se erguesse
E um tempo novo nascesse
Podia acreditar que vivi.

Posted by CR

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