Ele existe
Esqueci-me de assinalar aqui - para mais tarde recordar - de um momento importante, estranho e misterioso... Arnaldo Matos existe. Existe mesmo, meninos e meninas da minha geração pós-abrileira, pós-militar, pós-murais, pós-PCTP/MRPP. A todos os que cresceram na adolescência vendo Cavaco Silva na televisão, fica aqui dito sem margem para dúvida: o grande educador da classe operária não é um mito.
Arnaldo Matos esteve na televisão. No Prós e Contra da RTP. Ao lado de António Barreto, Adriano Moreira e Adelino Gomes. Gosto sobretudo de ouvir os primeiros dois, António Barreto e Adriano Moreira, entenda-se. E gosto de Adelino Gomes, por motivos diferentes.
Ouço-os e leio-os com frequência. O pódio vai para Adriano Moreira, que como disse há uns anos neste mesmo blogue e numa tira de «O Primeiro de Janeiro», deveria ser candidato à Presidência da República, para eu ter em quem votar, sem hesitar caso inédito na minha ainda curta vida de eleitor.
Mas o momento estranho, misterioso e importante para mim e para a minha curta existência, alheia aos tempos em que o grande educador da classe operária andava nas bocas do mundo é o aparecimento de Arnaldo Matos na televisão. Eu nunca tinha visto Arnaldo Matos a não ser em gravação. Fitas pardas ou a preto e branco, daquelas em que os homens vestiam sapatos de tacão e ir de chaimite ao café não era um caso clínico.
Cheguei a duvidar da sua existência, não fosse a existência de Saldanha Sanches e as histórias dos tempos do PCTP/MRPP. Momento delicioso de guerrilha interna, urbana, radical, ardilosa, anedótica... Depois, o grande educador desapareceu.
Não estava à espera de nada de especial vinda dali. A sério, não estava à espera de rigorosamente nada, a não ser de disparates próprios daqueles que vivem em tempos desfasados. Aliás, Arnaldo Matos comporta-se como naqueles tempos: mal-educado, boçal, a roçar a bestialidade, sem um pingo de lucidez. Só lhe falta a espingarda de plástico. Nos jantares do PCTP/MRPP ele ainda a usa? (Who cares). Arnaldo Matos faltou ao respeito a Adriano Moreira, a ponto de este senhor ter perdido a calma e a sensatez que o caracteriza, dizendo ao educador-mal-educado que «se perdesse essa fixação era capaz de dizer coisas razoáveis». «Essa fixação» estava ligada a ideias idiotas sobre «bufos» e afins. Saldanha Sanches tinha razão, mas eu disso nunca duvidei. Duvidar de Saldanha Sanches seria um acto de pura estupidez. Certo, é que isso agora não interessa. Ele existe.Arnaldo Matos existe. E a sua existência criou um momento novo na minha curta vivência da história política recente portuguesa. E caiu mais um mito. Ele existe. Weird.
Nota: sobre os imigrantes ilegais e a conversa que decorria por aí no Prós e Contras da RTP, só uma pequena adenda. O Estado português foi o grande responsável pela existência de uma massa de trabalhadores ilegais que estavam dispostos a carregar pedra e fazer cimento a troco de um baixo salário. Quando Cavaco Silva iniciou, à custa das verbas europeias, a construção de grandes obras em Portugal não esteve disposto a pagar o preço justo. Quis mais estradas, mais barragens e pontes, por menos dinheiro. E à custa de uma instabilidade social gravíssima, que se acumula de dia para dia. Foi oportunismo, foi estupidez. Cavaco trouxe ao engano milhares de trabalhadores ilegais, agora radicados no país, pais de filhos desenraizados, afastados da comunidade, vivendo em bairros problemáticos. Esses trabalhadores findas as obras e o dinheiro vindo de fora ficaram sem emprego. Ficou criado um caldo de cultura grave. O suficiente para dar merda. E, sim, a culpa foi de Cavaco Silva.
3 Comments:
Não vi o debate.
Sobre a nota: toda a razão, claro, mas agora o avozinho já é todo sensato e até vai dar um belíssimo Presidente da República. Aliás, os gajos que nos andam a comer de cebolada andam todos bem empoleirados. Ele é a Comissão Europeia, ele é a ONU, enfim.
Outra nota: li hoje na Visão que esse paladino da igualdade social de nome Bagão Félix, tinha retirado o abono de família aos imigrantes com visto de permanência, abono esse que vai ser reposto. Eu sinceramente não percebo: imigrante com visto de permanência são os gajos das embaixadas? Devem ser, daí não necessitarem de abonos de família. Se calhar amanhã o Portas (ai desculpem já não é este é o outro, o gajo como é que ele se chama, o Ribeiro e quê? Casto? Castro?) vem aí bradar aos sete ventos que o Governo socialista anda por aí a dar mais tacho a quem não tem sequer a massa e o arroz para pôr lá dentro...
Haja decência!
4:45 PM
Rita, sobre a nota: o avozinho é sensato e não é um estado de espírito recente. Se vai dar um belíssimo Presidente da República? A primeira vez que escrevi isto (há 3 anos? ou 4? ou 5? já nem sei...) ainda tinha sinceras esperanças. Agora não. Sobretudo depois do próprio - por mera circunstância - me ter dito que nem pensar...
5:23 PM
Não dava nada um bom presidente. O Presidente da República tem de ser, por natureza do cargo, um político puro, perito em diplomacia interna e externa. O "avôzinho" não é nada disso. É um economista tecnocrata que governou assim-assim numa altura em que Portugal era a mascote da Europa. E nunca gostou de política.
Ego
9:22 PM
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