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Friday, January 30, 2004

Não é uma comédia. Não é um drama. É a vida

«As Virgens Suicidas» foi a estreia em grande de Sofia Coppola.

Com «Lost in Translation», com o pai Coppola como Produtor Executivo e com o dedo do irmão, Roman, Sofia alcança outro feito. A filha de Francis tinha em mente um filme em Tóquio - onde chegou a viver - e que integrasse no elenco Bill Murray. Mai nada. A partir daí criou quase tudo. O filme é romântico, mas verdadeiro. Subtil, mas verdadeiro. Leve, mas cruel. Puro, mas sarcástico.

Em «Lost in Translation» existe tudo o que é preciso para que um filme funcione: além da câmara e do cenário e de um realizado, existe uma relação entre um homem e uma mulher. Filmado com o budget de um filme português, durante um mês, Bill Murray é um homem na crise da meia-idade, que ainda não comprou o Porsche, e que depois de ter sido um sucesso acaba a fazer anúncios publicitários a um whisky. Ela, pelo contrário, é nova. E desempregrada, apesar de ter finalizado Filosofia em Yale. Também casada. Charlotte foi a Tóquio na companhia do marido, um fotógrafo de bandas de lock'n'loll - estamos no Japão - e fica a maior parte do tempo sozinha, no hotel.

Os dois conhecem-se no bar do hotel e acabam por encontrar na relação a companhia ideal para ocupar as insónias. Mas não pensam que decidiram ocupar as insónias enrolados no lençol, um em cima do outro. Não! O mais bonito do filme é que, com excepção de um beijinho, não há uma única cena de sexo - feito raro no cinema de hoje em dia, sobretudo no cinema europeu.

«Lost in Translation» não é uma comédia. Não é um drama. É a vida. A vida de duas pessoas que se encontram na altura certa e que passam dias juntas a almoçar, beber copos, a cantar, e a dizer «que sim» com a cabeça sempre que falam longamente com eles em japonês.

Nunca chegamos bem a perceber que Bob sente por Charlotte e vice-versa. Ou melhor, Charlotte é mais nova e por isso mais transparente. Mas a chave para o filme acontece no fim. Mas caro futuro espectador não lhe vou dizer qual é. E porquê? Por que não faço a mais pequena ideia. Só posso imaginar, o que não consegui ouvir. Bob sussurra ao ouvido de Charlotte uma frase que acompanha o desenlace do filme. E que nós não ouvimos.

Bill Murray está velho e perfeito para o papel. A doce Scarlett Johansson é ideal na interpretação de Charlotte. Porque é carinhosa, linda, pura e triste.

Assim como o filme é triste e melancólico. Vago como a sensação que vem de algo que não conhecemos. Como a natureza humana.

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